quinta-feira, 16 de setembro de 2010

VAMOS TER QUE AGUENTAR POR MAIS DEZ ANOS

Câmara de Vereadores aprova projeto de lei impopular que altera processo licitatório no transporte coletivo de Florianópolis

 Por Yuri Gama
Por volta das 18h desta terça-feira, 14/09, estudantes e populares já aguardavam em frente à Câmara de Vereadores de Florianópolis o início da sessão com a votação do Projeto de Lei Complementar, que alteraria a lei de regulamentação do processo de licitação das empresas de transporte público.
A casa abriu as portas e as 200 pessoas já manifestavam sua indignação com o projeto a ser votado. Aos gritos de “Se essa lei aprovar, olê, olé, olá, a cidade vai parar” e de “Ilha da magia, democracia é só uma fantasia” a sessão começava.
Como segundo ponto põe-se em votação o projeto. Entretanto, explicando o grau de impopularidade e questionando veementemente o texto, ao explicar a necessidade de se fazer audiências públicas em todas as regiões da cidade, entre outras medidas de diálogo com o povo, o vereador Ricardo Vieira (PC do B) requereu antes, a votação da volta do projeto para a Comissão de Trabalho, Legislação Social e Serviço Público. Sua proposta foi negada por 11 votos contra 3. Em seguida, apesar de toda a pressão popular presente com diversos setores da sociedade se manifestando contra, por 11 votos a favor, um contra e duas abstenções, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei complementar 1.017/2009 que atualiza a lei 034/99 com 6 emendas novas. Somente o vereador Ricardo Vieira votou contra.
A sessão termina às 20h e aos poucos os manifestantes vão saindo da Câmara. Ao passo que o carro do primeiro vereador tenta sair, o bloco se reúne novamente e bloqueia a Rua Anita Garibaldi e fecha-se a garagem do prédio. Nisso, um ônibus da Transol, ao tentar fazer a curva para desviar do bloqueio, bate em um carro e acaba tendo que parar, colaborando com ocupação da rua. Com isso, a manifestação começa uma assembléia para discutir os próximos passos e uma série de falas ocorre. Fala-se em Ação Pública para embargar a lei complementar recém aprovada, fala-se em organizar um projeto popular substitutivo ao presente e ainda tira-se uma reunião de reorganização da Frente de Luta pelo Transporte Público para o próximo sábado, 18/09, às 14h30, no DCE da UFSC.
A atração do bloqueio foi a queima de um pequeno ônibus feito com papelão escrito “Tran$ol”. O protótipo ficou queimando por mais de 1 hora, mesmo após várias tentativas da guarda municipal de apagar com extintor de incêndio, panos e até pisando em cima. Após o fogo ter se apagado a Polícia Militar e o BOPE apareceram e tinham ordens diretas para retirarem os vereadores da Câmara em segurança. E foi o que ocorreu. A manifestação não quis confronto e o cordão policial foi feito para que dois carros com todos os 7 vereadores, que ficaram lá dentro por 1 hora e meia, saíssem.
Nesse momento um manifestante que estava em outra parte da rua jogou sacos de lixos nos carros e acabou sendo detido e levado para a Central de Polícia. Logo em seguida a manifestação se encerrou, alguns foram na Central verificar e outros dispersaram. Acumulando vontades e forças.
Para esta quinta-feira, dia 16/09, às 19h30, no auditório da Reitoria da UFSC, está marcado o lançamento do documentário IMPASSE, produzido pelos jornalistas Fernando Evangelista e Juliana Kroeger. O mesmo problematiza a situação calamitosa em que se encontra o sistema de transporte coletivo da capital e mostra entrevistas com atores e atrizes participantes de todo esse imbróglio, que se tornou pauta ativa na sociedade florianopolitana nos últimos 10 anos.
Entenda o Projeto de Lei Complementar aprovado
Da noite para o dia surgiu na pauta da sessão da Câmara de Vereadores a votação do projeto de Lei Complementar 1.017/2009, visando alterar a lei 034/99- que já regulamenta o processo de licitação das empresas do transporte coletivo de Florianópolis – autorizando e transformando pontualmente este já existente processo licitatório. Diz-se “da noite para o dia”, pois o projeto foi diretamente para a votação de maneira inconclusiva. O último estágio de debate foi na Comissão de Trabalho, Legislação Social e Serviço Público e esta simplesmente não chegou a uma conclusão em cima do assunto. Mostrando assim, como é necessário um diálogo com a população para que tais leis, que afetem centenas de milhares de vidas, não atuem de maneira a piorar a situação que já está; mantendo assim um nível mínimo de democracia na sociedade.
O novo projeto no começo de sua redação enfatiza a continuação do sistema de transporte nas mãos da iniciativa privada, alegando que “Administração Pública Municipal não dispõe de condições técnicas, recursos humanos e capacidade econômico-financeira para assumir tal encargo e ainda investir na qualidade, na modernização e atualização tecnológica e na melhoria contínua do serviço (…)”. O texto segue elencando através de artigos, diversas mudanças tais como nos nomes dos tipos de linhas, nos diversos possíveis tipos de concessão e também – pasmem – a possibilidade de concessão planejada num prazo máximo de 20 anos e abrindo uma exceção para casos em que as empresas invistam valores muito altos, para 35 anos.
Em outras palavras, na próxima votação para a licitação das empresas é bem possível que seja aprovada a renovação do contrato das atuais empresas para mais 20 anos e quiçá 35. Questiona-se, então, o tamanho do espaço dado às empresas privadas para atuarem no meio de um serviço que era para ser público e gratuito, assim como qualquer outro serviço público é e o tipo de democracia que temos num regime onde se garante a exploração do transporte coletivo por até 70 anos por uma mesma empresa.
O projeto também aprovou a abertura para incorporações, cisões, fusões e transferência do seu controle societário desde que o poder público dê o seu aval. Além disto, a tarifa continuará a ser através da divisão do custo total dos serviços entre os passageiros pagantes. Ou seja, a população continuará pagando o lucro dos presidentes das empresas e também garante o espaço delas de estarem atuando, mesmo depois do término do contrato, até quando um novo processo de licitação seja votado. Deixando evidente o caráter dos ajustes votados no dia. Os mais importantes, claramente, foram acrescentados para a facilitação da vida das empresas privadas no processo de atuação de suas concessões, em um sistema o qual o direito de ir e vir da população tem um preço

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