quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sobre a Distinção entre Sonhador e Sonha-Dor

Nesse contexto foi que cheguei aqui onde plantas, aves e mamíferos das mais variadas formas conviviam em harmonia. Ou quase isso. Ao menos aparentemente. Não fosse a presença humana, tal equilibrio seria muito menos utópico e não haveria drama para ser contado. Talvez por isso tais seres (os não-humanos) dispensem a linguagem escrita e verbal. Poderia tratar-se de um estágio superior ao nosso - já que não necessitam discutir ninharias -, ou apenas seres inferiores na cadeia evolutiva - e portanto desprovidos de capacidade intelectual, como prega a ciência atual. Mas isso depende da posição filosofica de cada um e daria outro conto. Voltemos, portanto, a nossa estória:

A escolha do local se deu por acaso ou, como diriam alguns, porque o universo conspirava para isso. Quando tomei a decisão de buscar novos horizontes, recorri a amigos dos quais a tempos eu havia me afastado por conta dos rumos da vida (ou da ausência destes), embora mantivesse contato. Agora que minha vida precisava de um novo rumo, o auxílio de velhos companheiros cheirava a conforto. Ao menos de início. Durante os primeiros dias, vivi um reencontro com partes minhas que havia muito não sentia. Aqueles seres, tão humanos quanto eu, tinham o poder de me remeter às doces lembranças do libertinismo que eu vinha negando nos últimos anos em nome de uma relação doentia que por fim me alejara durante meses. Tudo era, a princípio, comum, dividido, respeitado, discutido, acordado, não-imposto. Tudo era permitido desde que não comprometesse a liberdade alheia; ao menos em teoria. Na prática, entretanto, as convicções humanas mais mesquinhas eram as mais difíceis de arrancar, exatamente igual ao que se passa no resto do mundo. A erva-daninha sempre cresce com mais facilidade que as flores; não importa o quanto se enfeite o jardim, limpá-lo é impressindível.

Não obstante, aqueles seres tão humanos quanto eu, mereciam reconhecimento por ao menos ousarem tentar pensar diferente, atentando para as plantas indesejáveis em seus jardins. Eram sonhadores e isso por si só sempre me pareceu louvável. Mas, se posso hoje tirar alguma conclusão da minha tentativa de reencontro comigo e com a vida, é uma distinção que precisa ser lembrada: aquela existente entre sonhadores e sonha-dores.

Criar essas categorias foi uma tentativa de isolar as duas principais tendências no que diz rerspeito à (in)coerência entre ação e discurso: 1) aqueles que não se furtam em planejar uma realidade mais justa de acordo com princípios adotados através de seu conhecimento e experiência de vida, sem se abalar com as vaias dos que o chamam de utópico, pois que sabem partir da realidade existente rumo a transformação desejada e conquistaram a serenidade necessária para injetar em seus atos a liberdade que almeja para si e os demais (sonhadores); e 2) aqueles que iludem a si próprios, tapando os olhos para a contradição imediata entre discurso e prática, que se escondem atrás de um teatrinho libertário para não enxergar a vergonha que têm de si mesmos (0s sonha-dores). A essa última categoria é que dedico o presente texto; àqueles que se ocupam em sonhar as dores do mundo desde um pequeno ninho egocentrico totalitário emoldurado pelo silêncio, enquanto fingem para si mesmos que seus jardins estão imunes às ervas-daninhas que impregnam as bases do colorido de suas flores.

3 comentários:

  1. ...como um bom agricultor ..hoje ainda percebo q as cousas estao dentro das coisas... entre as flores e las ervas daninhas ah spinhos....q n as maxucam...
    porem .. nao adianta soh olhar para o jardim...ora florida ..ora tomado pelo mato...
    por maix q se limpe o terreno....la no fundo ..bem no amago do Solo, solamente ah um banco..genethiko... q se autosustenta em renovar las ervas concomitanti mente...basta soh uma mijada...lique feita...q pronto..
    la si vaum novas ervinhas..DIZ bravar naturaleSa.?!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É.. só olhar não adianta, zogador. "Nunca se sabe quais os defeitos que sustentam as virtudes" (Clarice Lispector)

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