terça-feira, 28 de setembro de 2010

Breve análise do Cortina de Fumaça

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Rodrigo Mac Niven, diretor do documentário "Cortina de Fumaça", no Festival Internacional de Cinema do RJ
O documentário “Cortina de Fumaça”, de Rodrigo Mac Niven, lançado no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro no dia 24.09, abrindo a sessão Midnight Movies, no cinema Odeon, é de uma relevância inquestionável. Trata-se do primeiro documentário brasileiro que coloca questionamentos acerca do proibicionismo existente no que se refere à questão das drogas, atribuindo atenção especial ao Rio de Janeiro devido ao fato de que a latência dos problemas gerados pelo mercado paralelo do tráfico de drogas nesta cidade é de forte intensidade.

As informações apresentadas no decorrer da película por médicos, policiais, pesquisadores e militantes políticos, brasileiros e estrangeiros, demonstra que há uma “cortina de fumaça” que impede que a sociedade visualize o real problema existente no que se refere à política da guerra às drogas.

O mapeamento da geopolítica das drogas no mundo coloca os EUA em mais uma posição de interventor, e que utilizou a justificativa de combate aos entorpecentes para militarizar os países, e expandir seu raio de ação imperialista principalmente na América Latina. Isso se reflete nos constantes ataques deste para erradicar plantações de coca na Bolívia e Peru, que utilizam esta planta como parte da cultura milenar dos povos andinos. O mais interessante é o levantamento histórico feito pelos pesquisadores, em especial do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, da USP, demonstrando que o uso da maconha por minorias étnicas nos EUA fora motivo de aumento de criminalizar essas populações devido à tradição preconceituosa, racista e xenófoba existente neste país, acusando-os de serem responsáveis pelo aumento da violência contra indivíduos brancos e ricos.

A abordagem feita no documentário que implica uma orientação do saber clínico demonstra a resistência que a medicina tradicional impõe no que se refere ao uso da maconha em tratamentos de pessoas com doenças como a Aids, câncer, em casos de dores crônicas, e como o proibicionismo, em sua mais radical postura, impede que se avance nas pesquisas desta natureza.Tudo isto devido ao fato de que a indústria fármaco-química iria despencar em seus lucros, uma vez que o remédio natural pode ser plantando dentro de casa em jardins. Além disso, desmistifica toda a lenda criada em torno de que a cannabis destrói neurônios, provoca perda de memória, que deixa o indivíduo usuário agressivo, dentre outras formas de se demonizar a maconha.

Todo o brilhantismo do documentário se completa com os depoimentos de indivíduos que fazem uso da maconha medicinal, dos cultivadores de maconha, das feiras de cultura cannábica que existem em países como o Canadá, e a postura de grandes intelectuais se colocando a favor de uma revisão e na conseqüente modificação radical na política de drogas vigente na maioria dos países do mundo.

Uma crítica que pode-se atribuir ao filme é a presença de uma citação do economista norte-americano, Milton Friedman, um dos teóricos da doutrina neoliberal, e que foi aplicada pelo presidente Ronald Reagan, em 1989, nos EUA, e sob a égide deste pensamento desenvolveu-se a política de guerra às drogas com suas infinitas conseqüências sociais, econômicas e políticas. A participação do Fernando Henrique Cardoso e do Fernando Gabeira também são alvos da crítica. Isto se deve ao fato de que o ex-presidente da república, durante seus 8 anos de mandato, aplicou o mesmo receituário neoliberal, ampliando a militarização no tratamento das questões que envolvem as drogas sendo possível visualizar a maios repressão aos usuários e a constatação de uma guerra falida, e o Gabeira que, negando sua militância política pela legalização da maconha, ultimamente tem se colocado contra esta mudança legislativa, talvez devido a sua candidatura ao governo do estado do Rio de Janeiro e o possível desapontamento que esta postura legalista poderia causar aos seus eleitores. Apesar de todos estes serem grandes intelectuais e se colocarem (pelo menos o FHC e o Milton Friedman) em favor de uma política pública legalista, não dá para abolir da história o que fora feito por estes e o que protagonizaram no cenário político brasileiro e mundial. Há vários outros nomes da política nacional, assim como teóricos ao redor do mundo, que poderiam ter sido entrevistados ou citados em lugar destes acima descritos.

Porém, não torna diminuto de forma alguma o conteúdo do filme. Muito ao contrário, podemos considerá-lo um marco cinematográfico brasileiro e que servirá como um instrumento com uma discussão de alto nível para esclarecimento da sociedade, na luta pela legalização das drogas, em particular a cannabis, e as políticas públicas voltadas para o atendimento das questões que envolvem substâncias psicoativas. Infelizmente, é sabido que este tipo de informação não é expandida para a maioria da população, ficando restrito a um grupo que não é maioria e que não é hegemônico. Este documentário foi realizado sem nenhum patrocínio e/ou apoio de leis de incentivo à cultura, mas  filmes assim é que são as melhores produções.

Na Confraria do cinema pode-se ler outra crítica do filme ~> http://www.confrariadecinema.com.br/filme.jsp?id=2346

COLETIVO CANNABIS ATIVA
NATAL-RN

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