Alguém segura o estado policial paulistano!
Tiro no pé
Não há impedimento, do ponto de vista legal, para que o tenente-coronel Salvador Modesto Madia seja nomeado comandante da Rota pelo governador Geraldo Alckmin.
Do ponto de vista político, todavia, a decisão é preocupante e lamentável. O tenente-coronel está entre os réus de um processo que se arrasta, escandalosamente, há quase 20 anos.
Não se trata de um processo qualquer. Refere-se a uma operação policial que resultou num total de 111 mortes, passando à história do Brasil com o nome de massacre do Carandiru.
No dia 2 de outubro de 1992, o grupo de policiais a que pertencia o novo chefe da Rota entrou no segundo andar do presídio rebelado. No térreo, os detentos tinham deposto suas armas, sinalizando que não iriam resistir. Foram fuzilados mesmo assim.
A PM subiu ao segundo andar; 73 presos foram mortos. Saíram vivos aqueles que se protegeram debaixo dos cadáveres das vítimas. O sangue foi limpado a rodo do piso daquele estabelecimento correcional.
A responsabilidade concreta de Madia nesse episódio -assim como a dos demais policiais envolvidos- ainda está por ser apurada.
A nomeação indica, entretanto, a continuidade de uma orientação política equivocada e demagógica por parte do governo estadual. A Rota tem sido sinônimo de truculência policial desde os tempos do governo Paulo Maluf, em pleno regime militar.
Na época, como agora, a ideia de que "bandido bom é bandido morto" prevalece na instituição -e obtém, inegavelmente, apoio em largas parcelas da população.
Remonta à Alemanha nazista a prática de invocar o "confronto e resistência à prisão" como pretexto para a eliminação sumária de quem quer que seja. Na gestão do antecessor de Madia, coronel Paulo Telhada, aumentaram em 63% os episódios de "resistência seguida de morte".
O governador Alckmin, que contabiliza entre seus trunfos políticos a implosão do Carandiru e o decréscimo das taxas de homicídio no Estado, comete um equívoco com essa nomeação.
Ou, se quisermos incorrer em frase de humor duvidoso, corre o risco de estar dando um tiro no pé. O número de assassinatos em São Paulo poderia diminuir ainda mais, sem dúvida, se a PM contribuísse com sua parte. A saber, matando menos
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