POR: Prof. Sebastião de Amorim - Departamento de Estatística - UNICAMP
”A usina custará 30 bilhões de reais”
● Cuidado! Os engenheiros da Eletronorte, que há décadas estudam a questão e já avaliaram a obra, estimam o custo em R$19 bilhões.
Quem avalia em R$30 bilhões é a grande mídia, citando “o mercado”. Devem estar incluindo aí o tradicional super faturamento.
Com o qual a “turma da Globo” parece concordar.
● Agora, verifique sua última conta de luz: você paga algo em torno de R$0,40 por quilowatt.hora (kWh) consumido.
Em sua versão plena a represa de Belo Monte cobrirá uma área de cerca de 1200km² (não apenas 640km²) e gerará, de forma estável, 11,3 Giga watts (ou 15,4 milhões de HP) de potência. Ou seja:
área inundada=1200 km2 ↔ potência gerada=11,3 Gigawatts
● Nesse ritmo, ela produzirá, por ano, 100 bilhões de kWh de energia. Entregue ao consumidor final (ou, como se diz, na ponta do consumo) o valor gerado é de R$40 bilhões, por ano, todo ano, por toda a duração da usina.
Produção anual da usina: 100 bilhões de kWh ↔ R$40 bilhões
Então?
Você acha caro o custo total de R$19 bilhões?
O custo estimado não é R$30 bilhões.
Vamos dizer NÃO ao superfaturamento.
“A usina gerará, de fato, apenas um terço de sua potência máxima”
● Numa usina hidroelétrica, o papel da represa é regular o fluxo d’água ao longo do ano, estocando o excesso na estação chuvosa. Com essa “poupança” hídrica, ela mantém um fluxo estável nas turbinas, mesmo na estação seca.
● Na Amazônia, como em todo o Brasil, o fluxo dos rios varia bastante ao longo do ano: muita água na estação chuvosa e menos água na seca. No Nordeste alguns rios chegam a secar completamente nas estações secas.
● Para garantir um fluxo estável durante todo o ano, a represa de Belo Monte terá que cobrir uma área de 1100 km2. Equivalente a 2 meses do desmatamento caótico, a motosserra e fogo e geralmente ilegal, verificado em 2010. Ou 2 semanas do de 2004.
● Pressões de organizações internacionais, que se apresentam como defensoras do meio ambiente, associadas a diversas organizações e celebridades nacionais, muitas delas movidas por sentimentos sinceros, exigem que Belo Monte não seja construída.
● Por não abrir o debate ao grande público, buscando apoio popular amplo, o governo fica em posição enfraquecida, e tem medo de peitar essa pressão.
● Por isto assume uma opção de compromisso, extremamente danosa aos mais legítimos interesses do povo brasileiro. Segundo esta opção restrita:
A usina será construída, mas numa versão pequena,
com a represa cobrindo área de apenas 600km².
● Assim reduzida, a represa não estocará água suficiente nas chuvas, e a usina perderá potência nas secas. Nos meses de seca, o reservatório perderia fôlego e a potência média ao longo do ano seria 60% menor.
● Curiosamente, este que agora é citado como um “grave problema da usina”, seria uma conseqüência da adoção da versão reduzida, exigida pelos opositores do projeto.
● Com seu projeto original fortemente comprometido, a terceira maior hidrelétrica do planeta ficaria reduzida a uma potência média equivalente a menos que 40% do seu potencial pleno original.
● 100 bilhões de kWh por ano, equivalentes a R$40 bilhões de valor gerado na ponta do consumo, ficariam reduzidos a 35 bilhões de kWh e R$13 bilhões. Certamente uma perda gigantesca para o País.
A Usina Inundará 640 km2 de mata virgem
● Como vimos, na sua versão correta, a área inundada será cerca de 1100km2.
● Agora, dê uma olhada na “floresta virgem” que a represa cobrirá. Faça uma “viagem aérea” sobre a área da usina.
● Use o “Google Earth”. Vá para o ponto de coordenadas 3o12’ 42” S e 52o 12’ 42” O. Mantenha-se, inicialmente, a uma altura de 200km. Você estará sobre a cidade de Altamira e a grande volta do Rio Xingu (Figura 1).
● Observe a região embaixo. Desça a altitudes menores para poder apreciar detalhes em bom nível de resolução. Parte da região está coberta por fotos de excelente resolução; outras, nem tanto. Mas você verá que resta muito pouco de mata virgem na região. A imensa maioria da área que será inundada, já foi desmatada, aparentemente com retorno econômico e social pífios.
● A verdade é que a represa cobrirá muito pouca área de floresta virgem. Na maior parte serão áreas já há muito desmatadas, e sem retorno econômico ou social aparentes.
● Preste atenção particularmente numa grande mancha retangular começando a oeste de Altamira, e se estendendo por 75km na direção sudoeste.
● Um retângulo quase perfeito, de área, por coincidência, igual à que será inundada pela usina na sua versão plena. Quase não há árvore nele. Também não se vê, nesse retângulo, vestígios significativos de atividade econômica ou de valor, que redimam, que justifiquem o desmatamento. Na sua extremidade oeste há um pequeno vilarejo cujo nome homenageia o ditador Garrastazu Médici.
● Curiosamente, o processo de desmatamento que corroeu a Selva Amazônica no entorno do Xingú, na região de Belo Monte passou em grande parte despercebido, até que se começou a falar a sério da usina de Belo Monte.
●No ano de 2010 apenas, segundo o INPE, foram desmatados, na Amazônia Brasileira, cerca de 7.000km2. Dá uma Belo Monte a cada 2 meses. Em 2004 foram 28.000km2, uma Belo Monte a cada duas semanas, de desmatamento caótico, a motosserra e fogo, com retorno, econômico e social, desprezíveis.
Figura 1 - desmatamento na Amazônia - em azul, a área total da represa
Figura 2– Um trecho da foto acima, visto de cinco mil metros de altura, mostra o estado da “floresta virgem”, na área da Usina.
Figura 3 – A região de Belo Monte vista de 200km de altura, no Google Earth. Note o nível do desmatamento, particularmente o retângulo de 1000km2, a oeste de Altamira.
Quem pagará pela construção da Usina?
Uma das mais intrigantes questões levantadas pela “Turma da Globo” foi, curiosamente, respondida corretamente por eles mesmos:
“Quem pagará pela construção da usina!? Você... o palhaço aqui!”
E nos chamou palhaços porque nós é que vamos pagar.
Realmente, somos nós que pagaremos a Usina. Com dinheiro, nosso, do Povo Brasileiro, do Tesouro Nacional. Felizmente, graças à progressiva recuperação do Estado Brasileiro na última década, temos dinheiro para bancar a obra, sem precisar de financiamentos estrangeiros nem de submeter nossa soberania ao FMI ou Banco Mundial.
E parece MUITO BOM, apesar da opinião aparentemente contrária da “Turma da Globo”. Vejamos, se eles têm razão quanto ao “palhaço”.
Como poderia ser diferente? Com dinheiro de bancos privados nacionais e estrangeiros?
O problema é que, aí, eles iriam ser donos da Usina... pelo menos por um período de uns 30 anos. O tal regime de concessão: eles entram com a grana, mas ficam com a Usina.
Como vimos, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, é um belíssimo projeto... do ponto de vista do retorno econômico, mesmo. Você investe R$19 bilhões e produz, na ponta do consumo, R$40 bilhões... por ano! E a usina estará lá, funcionando, pelos próximos 100, 200 anos. Nenhuma outra fábrica tem tal esperança de vida útil. De forma perfeitamente limpa e renovável. É claro que, além da geração, ainda tem transmissão e distribuição, antes da energia chegar às nossas casas, às avenidas, aos metrôs, às fábricas, aos hospitais, aos estabelecimentos comerciais, às escolas. Muita empresa pegará parte do resultado. Dos R$0,40 por kWh que você paga (verifique sua conta de luz), uns 10 centavos são imposto. Imagine: são R$10 bilhões de arrecadação para o Governo Federal. Imagine que dos R$30 bilhões restantes, um terço apenas fique com a Usina (a EletroNorte, a Eletrobrás, o Tesouro Nacional). São mais R$10 bilhões por ano... R$20 bilhões, por ano. Para R$19 bilhões totais investidos.
Um belíssimo negócio, sem dúvida.
Queremos, sim, pagar por ele, e queremos que ele seja do povo Brasileiro. Não de alguns grupos privados nacionais/internacionais.
Aliás, o regime de concessão que se discute nesse momento para Belo Monte é realmente inovador. Nós (via financiamento subsidiado do BNDS, com dinheiro público, isto é, nosso!) entramos com o dinheiro, e o grupo empresarial vencedor pegará a grana e a Usina. Pagarão em parcelas suaves, com parte da renda. {Cuidado, Marcos Palmeira, Bruno Mazeo. Vocês podem estar, inadvertidamente, jogando contra o patrimônio. Contra o Povo Brasileiro... o seu povo, afinal.}
Obviamente, não devemos aceitar isto: Nós entramos com o recurso natural e com os recursos humanos e financeiros. Nós somos os donos da Usina e dos seus gigantescos resultados econômicos.
Agora, a propósito dos R$ 19 bilhões de custo da Usina, é surpreendente que a “Turma da Globo” não tenha se manifestado com respeito à manchete do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 08set2011, reproduzida na Figura 4.
Figura 4 - matéria de primeira página d'O Estado de S. Paulo, do 08-set-2011. Demos praticamente uma Belo Monte para banqueiros falidos. Parece que ninguém achou importante protestar. Doar bilhões para alguns bilionários pode, né?
A Energia hidroelétrica não é uma energia LIMPA
Uma usina Hidroelétrica é um tipo curioso de fábrica: Ela usa água como matéria prima e produz, como resíduo industrial, ... água. Mais nada. Nada de poluição, de gases tóxicos, nada. A mesma água que entra – a matéria prima – é a que sai, como resíduo. Sai exatamente tão limpa como entra. Curioso, não?
A única diferença: a matéria prima é água em local alto – portanto tem energia potencial – e o resíduo é a mesmíssima água, só que em local mais baixo, portanto sem aquela energia potencial.
A energia potencial extraída da água que entra nas turbinas, faz girar as turbinas, é transformada, portanto, em energia mecânica. Há aí, é claro, uma pequena perda por atrito. A rigor, a água na saída da turbina é um pouquinho mais quente. Um centésimo de grau centígrado mais quente, talvez.
Estas giram os geradores, que produzem energia elétrica (Quatro mil litros de água, descendo de uma altura de 100 metros, entrega aproximadamente 1kWh de energia mecânica às pás da turbina. Dá dois banhos de 12 minutos cada em chuveiro de 2500w; ou para manter uma lâmpada de 25w, dessas modernas, acesa por 40 horas. E você paga R$0,40 por essa energia, entregue em sua casa. É muito engenhoso.)
A disponibilidade de água em locais altos, se constitui em riquezas naturais das nações, tão concretas como as reservas de petróleo, só que eternamente renováveis. E as reservas de potencial hidrelétrico do Brasil são invejáveis.
As turbinas capturam a energia potencial da água e a transformam em rotação, em energia mecânica. Os geradores transformam esta energia mecânica em energia elétrica. O processo é muitíssimo engenhoso e, no fundo, de uma simplicidade surpreendente.
A Energia Elétrica, extremamente versátil, é transportada, injetada na rede nacional de transmissão, sendo disponibilizada em todo o país, de acordo com as necessidades sazonais de cada região.
Na verdade, linhas de transmissão adicionais deverão ser construídas para integrar Belo Monte à Rede Nacional. Naturalmente.
Limpíssima e absolutamente renovável, a construção da usina implica em algum dano ambiental, certamente.
Populações ribeirinhas, vivendo nas áreas a serem inundadas, deverão ser realocadas.
1100 km2 de área serão inundados. Corresponde à área desmatada a cada dois meses em 2010, e a cada 2 semanas em 2004.
A vegetação inundada morrerá e, ao longo dos anos, irá se decompondo e lançando gás metano na atmosfera. Este é um gás de estufa que, na atmosfera, com o tempo se transforma em gás carbônico. Isto, aliás, acontece com o desmatamento a motosserra e fogo, que aliás, já ocorreu na região. Só que muitíssimo mais rápido, sem o estágio metano, e sem retorno econômico ou social significativos.
Vejamos a alternativa:
Para crescer 5% ao ano, o Brasil precisará de aumentar em pelo menos 25% sua produção de EE até 2015. Sem construir Belo Monte, a solução seria a construção de 113 usinas termoelétricas de 100 Mega watts cada. Essas usinas queimariam por ano milhões de toneladas de carvão mineral (importado e caro).
Termoelétricas não são nada limpas. Pelo contrário, elas são muito sujas!
Cada milhão de toneladas de carvão queimado jogará na atmosfera 3,67 milhões de toneladas de gás carbônico, mais uma lista tétrica de gases poluentes, tóxicos diversos derivados do Nitrogênio e do Enxofre. Chuva ácida e poluição pesada traria danos gigantescos ao meio ambiente.
O brasileiro consome, em média, pouquíssima energia elétrica. Nosso consumo domiciliar médio é pífio quando comparado ao de países como Grécia e Portugal, para não falar dos países mais ricos, como França, Austrália, Itália, Canadá e Estados Unidos.
Com a melhoria das condições sociais das camadas mais pobres da população, estamos vendo uma alta acelerada do consumo domiciliar médio. Consumo de EE está associado a bem estar, a padrão de vida.
As comunidades indígenas e demais populações ribeirinhas da região serão prejudicadas
Também aqui a “Turma da Globo” acertou na mosca, embora de uma forma curiosa, ao avesso avesso.
Como vimos, Belo Monte produzirá, em regime permanente, um fluxo colossal de riqueza. Alem, é claro, de injetar na Máquina Brasil, energia limpa e abundante.
É claro que grupos econômicos nacionais e estrangeiros salivam quando pensam na possibilidade de pegarem este imenso patrimônio econômico da Nação Brasileira, em concessão por 30 anos, principalmente considerando que não precisarão de entrar com capital próprio.
A luta pela não construção de Belo Monte é uma LUTA ERRADA, contrária aos interesses do Povo Brasileiro em geral, e daqueles diretamente afetados, em particular.
Temo pelos nativos e outros povos da região, nossos irmãos.
Quando esses movimentos ambientalistas se cansarem do tema e jogarem a toalha, como já jogaram com relação à Transposição do São Francisco.. Sendo seduzidos em direção a um beco sem saída, a uma opção de luta sem perspectiva de vitória, ele serão, no final, abandonados e esquecidos por esses mesmos movimentos que terão, assim, as suas profecias sombrias plenamente realizadas.
E Belo Monte seria apropriada por grupos privados: 100 bilhões de kWh, R$40 bilhões por ano de riqueza natural do povo brasileiro sendo privatizados, apropriados pelo grande capital.
Como pode vir a acontecer com o petróleo do Pré-sal, desde que o tema saiu da pauta, caiu da moda.
Uma proposta de Luta por Belo Monte
1. Exploração plena do potencial hidrelétrico de Belo Monte
2. Construção da Usina com recursos públicos – hoje disponíveis, graça à progressiva recuperação econômica do Estado Brasileiro – com operação e exploração pelo complexo estatal Eletrobrás
3. Construção e Operação em regime de plataforma, impedindo o processo de urbanização caótica descontrolada do entorno da usina. Investimento sério na infra-estrutura urbana em Altamira, transformando-a em uma cidade modelo para a Amazônia.
4. Construção de amplo e eficaz sistema lateral de passagem ao largo da represa, que permita o trânsito fácil de espécies aquáticas ao longo do rio.
5. Investimento social dos recursos gerados.
a. Sustentação financeira de um sistema eficaz de Proteção e Defesa da Floresta Amazônica, contra o processo de devastação caótica e irregular da mesma.
b. Redução a zero do processo de desmatamento caótico, a motosserra e fogo, na Amazônia (hoje no ritmo de 6.000 km2por ano), antes da inauguração da usina.
c. Tratamento digno e generoso das populações nativas deslocadas pela represa:
i. Concepção e construção de rede de aldeias/vilas, com apoio e orientação de antropólogos, arquitetos, sociólogos, agentes de saúde, e a participação direta de representantes das comunidades envolvidas, com:
1. Suprimento de eletricidade (naturalmente!) e água tratada;
2. Serviços de telefone;
3. Escola;
4. Posto Médico;
5. Centro Cultural com biblioteca, videoteca, discoteca;
6. Conexão Internet banda larga;
7. Campo de pouso... etc
d. Suporte logístico e financeiro a um Centro Avançado de Estudos Amazônicos, no entorno da usina, a ser operado por um consórcio de universidades e centros de pesquisas brasileiros (INPA, EMBRAPA, INPE, FIOCRUZ, etc.) e internacionais conveniados (em especial das nações Amazônicas).
e. Fomento a programas eficazes de recuperação de áreas ambientais degradadas em todo o país, com ênfase nas bacias hidrográficas, em particular a Bacia do S. Francisco.
f. Implantação de Base Militar na área da Usina, integrada ao Sistema Nacional de Defesa da Amazônia*.
g. Apoio financeiro a programas nacionais de racionalização e eficiência do uso de energia.
h. Apoio financeiro a sistemas de transporte público (metrôs nas principais metrópoles brasileiras: S. Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Recife, Curitiba, Fortaleza, Goiânia).
i. Apoio financeiro de programas de pesquisa científica e tecnológica sobre novas fontes de energia e novos equipamentos mais eficientes, em universidades e centros de pesquisa brasileiros.
Então, visto que é escrito por um estatístico, com forte vertente na economia, com certeza os cálculos que passam pela sua cabeça são as análises de custo/benefício, muito afeitos aos engenheiros, em especial, classe de grande poder em nossa sociedade, a saber atraves das maçonarias, secretarias de planejamentos,CREAS, etc.
ResponderExcluirocorre que uma proposta de energia setorial feito esta não pode ser considerada isolada, sem levar em considerações outras alternativas de opções, que incluem as pequenas centrais hidrelétricas, entre outras formas de energia.
o mais assustador é o como aceitamos tão fácil esse discurso em prol do progresso, sem levar em consideração uma velha verdade. socializa-se os custos, privatiza-se os benefícios. quem ganha e quem perde, deve sempre ser a pergunta que nos nortea.
Paz, amor e luz, o resto a gente inventa.