segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cannabis e sociedade

Extra, Extra! Estudantes de psicologia são presos plantando maconha em vasos. Os meliantes possuiam ainda sementes que seriam usadas para outros plantios.

Hipocrisias a parte, diante do caos e da guerra civil que reina no estado do Rio de Janeiro, é preciso, antes de mais nada, debater seriamente a política de combate às drogas, tomando decisões estratégicas com eficiência e pragmatismo.

Diversos pesquisadores de renome no Brasil e no exterior já salientaram que o uso de Cannabis sativa, conhecida vulgarmente como maconha, não causa prejuízos severos à saúde humana, tanto do ponto de vista fisiológico, quanto do ponto de vista da saúde social (coesão e patologias sociais). Entretanto, a sociedade recrimina o uso da cannabis com um juízo moral instalado, difícil de ser superado, devido ao tratamento dado pelos meios de comunicação e pela legislação vigente.

Não existe argumento que se sustente a cinco minutos de debate, que permita justificar a legalização do consumo de cigarro e de álcool e a criminalização do uso da planta Cannabis sp. Milhões morrem diariamente pelo consumo de cigarro, além de diversas doenças demente atribuídas ao seu consumo, bem como os problemas de saúde relacionados ao consumo do álcool, desagregação familiar, agressividade, acidentes de trânsito, cirrose, e a lista prossegue indefinidamente...

O potencial efeito de trampolim sugerido por alguns, que consiste na passagem de uma droga leve, a cannabis, para uma droga pesada como o crack ou mesmo a cocaína, só é possível uma vez que os usuários se deparam com a possibilidade de compra de todas estas drogas na boca. Não existe estudo que corrobore o efeito trampolim. Por outro lado, muitos estudos mostram a eficiência da Cannabis para o tratamento de usuários de crack, droga realmente demolidora do ponto de vista de saúde.

Qualquer criança de 8 anos consegue comprar a quantidade que quiser de qualquer droga, com a venda sendo des-regulamentada da maneira que está. Estrategicamente, a descriminalização da maconha e sua regulamentação e venda em postos controlados, deixaria de fornecer milhões por ano em dinheiro e armamento para a perpetuação do tráfico. Assim, o sistema de tráfico não se sustentaria com a mesma facilidade que está em nossa sociedade, apenas com a venda de crack e da cocaína.

O que se nota na sociedade, na verdade, é uma ignorância acerca do tema, um medo injustificado, uma puta mentira afinal. E resolvi contestar a ignorância e as mentiras do mundo, na tentativa de melhorar a vida dos que estão ao meu redor e consequentemente a minha.

O que seria do passado musical do mundo se não fosse a criatividade experimentada por vários artistas para produzir canções pro nosso consumo e aliviar nossos anseios subjetivos? O que seria da teoria da personalidade de Freud, se este não tivesse mergulhado na sua consciência, e na dos seus pacientes, elaborando modelos de compreensão da psique e do self, permitindo uma sobrevida para que nossa colônia funcione “normalmente”?

Creio que nosso medo primitivo está relacionado ao questionamento de nossos valores. Esses medos queimaram diversos cientistas e artistas em períodos obscuros de nossa história, atrasando em algumas centenas de anos a evolução da espécie humana na compreensão do mundo e de si mesma.

Temos medo de nossa própria consciência? Temos medo de nos depararmos com seres mesquinhos e medíocres que só tem valor enquanto um objeto consumidor e de consumo, fazendo compras em datas programadas, sendo vitrines ambulantes, parte de uma cultura homogênea e monótona? Disto eu tenho medo. É preciso combater.

Prendam todos os criminosos consumistas que degradam o meio ambiente, que buscam ter algum valor dirigindo seus possantes V8, na tentativa de conseguir, no fim das contas, status e sexo; Os mesmos que guardam as portas do céu, administram os cartéis. Prendam todos!

Sim, é preciso enfrentar nossos medos. Ou estamos satisfeitos com o rumo das coisas? Será que tudo vai dar quase certo? Não precisamos ter pressa, mas não podemos perder mais tempo, disse uma vez Saramago, ensaiando lucidez sobre todo o delírio coletivo.

Gabriel Ferreira de Azevedo Clemente

Biólogo pela USP Ribeirão, humanista e libertário.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto! A idéia não é de forma alguma apologética, qualquer consumo de qualquer substância gera efeitos fisiológicos no organismo que poderão ser considerados não saudáveis, ou prejudiciais a saúde (vejas-se exemplo do açúcar, sal e fast foods em geral!). A discussão centra-se no livre desenvolvimento da personalidade humana, na liberdade individual. Políticas educativas, de redução de danos, de saúde, serão necessárias, assim como são para o alcool e tabaco. A discussão é latente e necessária, não é mais possível fingir que o mercado (produtor e consumidor) de drogas não existe ou que de alguma forma ele pode ser extirpado do mundo (veja-se relatório da ONU que mostra a lucratividade do negócio!). Resta-nos começar a praticar essa mudança de visão (o que dizer da lei seca nos eua???), buscando mais informação e discutindo rotineiramente sobre o assunto, sobretudo porque a mídia esclerosada não realiza as necessárias conexoes entre os problemas sociais enfrentados por CONSEQUENCIA dessa política beligerante em face as drogas!

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