terça-feira, 3 de maio de 2011

A robotização da humanidade na agressão à Líbia

do blog do Maurélio ( aqui)
Em tempo: para os brasileiros, que às vezes vivemos tão alienados das coisas do mundo, não será ocioso traduzir, do português de Portugal, o que o texto chama de NATO. É o que lá na terrinha significa OTAN, ora pois.
Segue o texto
A robotização da humanidade na agressão à Líbia
Por Miguel Urbano Rodrigues
A propósito da agressão imperialista à Líbia, Domenico Losurdo, um dos filósofos marxistas mais criativos do nosso tempo, recorda a famosa novela 1984, de Georges Orwell.
O alvo desse romance era a satanizarão da União Soviética contemplada pelo escritor anticomunista britânico como uma sociedade onde a robotização do homem estaria em marcha.
Orwell ideou um mundo imaginário no qual uma «neolingua» manipulara a consciência dos povos, destruindo-a.
A sua utopia, escrita no ano em que foi fundada a NATO, adquire hoje dramática actualidade. Mas Orwell errou o alvo. O perigo para a humanidade vem de outro azimute. A URSS, a pátria mítica do socialismo, desapareceu e quem simboliza o «Grande Irmão» é o imperialismo, hegemonizado pelos Estados Unidos.
Um massacrante bombardeio mediático tenta há semanas persuadir os povos do planeta de que a fidelidade aos mais purosideais humanistas justifica a decisão de Washington, da França e da Grã Bretanha de semearem bombas sobre a Líbia no âmbito de uma «intervenção humanitária» concebida em defesa da liberdade e da democracia.
Enquanto a metralha dos aviões imperiais destrói Tripoli e outras cidades, pulverizando infra-estruturas do país e matando milhares de civis, Obama, Sarkozy e Cameron repetem monotonamente que tratam de «proteger as populações civis»,
mandatados pelo Conselho de Segurança da ONU.
A mentira atingiu tais proporções que o esforço para desmentir a falsificação da Historia se torna um dever democrático.
A montagem da agressão ao povo líbio principiou muito antes doinício da «rebelião» de Benghazi, preparada por Washington e Londres e financiada por alguns dos gigantes do petróleo.
Segundo o semanário britânico «Sunday Mirror» (artigo de Mike Hamilton, 20.3.2011) , centenas de soldados ingleses do Special Air Service – SAS, tropa de elite especializada em operações encobertas, trabalhavam na Cirenaica há muitas semanas, treinando os «rebeldes» para o levantamento armado. Dois grupos de comandos «smash», peritos em sabotagem, integravam o contingente clandestino.
A 30 de Março, «The New York Times» revelou que numerosos agentes da CIA colaboravam com a tropa britânica, actuando nos bastidores, cumprindo missão da Administração Obama, empenhada em «armar os rebeldes e dessangrar o exercito de Khadafy »(Mark Mazzetti e Eric Schmitt).
A 25 de Fevereiro, «The Guardian» informava que «oficiais britânicos tinham entrado em contacto com altos funcionários líbios colocando-os perante uma alternativa: ou abandonavam Khadaffi ou seriam julgados por crimes contra a humanidade»(Patrick Wintour e Julian Borger).
Cito jornais do Ocidente, identificados com o capitalismo, para lembrar que a deformação da Historia não consegue ser totalmente ocultada nos próprios baluartes do imperialismo.
Tal como aconteceu no Vietname, na Argélia, nas guerras coloniais portuguesas, no Iraque, no Afeganistão e na Palestina, uma parcela dos monstruosos crimes do colonialismo e do imperialismo acaba por chegar, embora tardiamente, ao conhecimento dos povos.
Isso não impede que a neolingua, forjada para reescrever a Historia, não cumpra a sua missão de perturbar, confundir e robotizar centenas de milhões de homens e mulheres, tornando-os tão inofensivos como os cidadãos do livro de Orwell.
Losurdo enuncia uma evidência dolorosa ao alertar a humanidade para uma trágica e grotesca realidade: «a neolingua actualmente em vigor transforma as vítimas em responsáveis de crimes contra a humanidade e em artífices da «justiça internacional» os responsareis de crimes contra a humanidade».
Vila Nova de Gaia, Portugal, 1 de Maio de 2011

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