segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tempo do “coitadismo” passou e jogou no lixo “teses raciais” de Magnoli e Kamel

Por Dj Cortecertu*, especial para o Blog Escrevinhador
Parafraseando a boçalidade, vou direto ao assunto. Sempre afirmaram que ações afirmativas, cotas e o ensino da história da África nas escolas eram “imposições” que dividiriam o povo brasileiro.
Essas medidas gerariam o “ódio racial”, pois criariam revisões históricas e um certo revanchismo. Ali Kamel e Demétrio Magnoli, entre outros ilustres, midiáticos e letrados arautos da harmonia social, são os maiores defensores dessas ideias.
Nesta semana, no portal G1 (clique aqui para ler), a antropóloga Yvonne Maggie afirma que “o Brasil reprime o racismo. Para o brasileiro é mais ofensivo o crime de racismo do que a morte”. A experiência cotidiana das pessoas simples deste país prova exatamente o contrário.
Será que esses seres iluminados não percebem que a indiferença e a impunidade que envolvem o tratamento dos casos de racismo no Brasil podem gerar esse ódio que tanto temem?
Pelo que vejo na grande mídia e nas redes sociais, o protesto dos negros não está agradando. O recado é: voltemos a falar que somos todos iguais para anular as diferenças que provam que essa igualdade não existe.
Os casos que rolam no futebol são o exemplo do tipo de racismo que é mais frequente no Brasil: o racismo prático, inocente, que não se pretende racista.
Pode isso? Sim, pode.
Essa prática está na tal experiência cotidiana citada acima, o preconceito fabricado por “pessoas de bem”. Pessoas que cometem injúrias raciais, mas afirmam que não são racistas. Afinal, é algo tão normal, que o futebol só amplifica em suas arenas.
Em 2006,  em um texto da Revista USP (leia aqui), Rita Laura Segato, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, abordou a reprodução deste racismo prático e estrutural, algo que resiste à identificação de uma autoria ou responsabilidade.
“Este tipo de racismo é automático, irrefletido, naturalizado, culturalmente estabelecido e que não chega a ser reconhecido ou explicitado como atribuição de valor ou ideologia”, afirma Rita.
É difícil combater algo invisível assim, né? Invisível pra quem?
A professora prossegue na argumentação. “O professor da escola que simplesmente não acredita que o aluno negro possa ser inteligente, que não o ouve quando fala nem o percebe na sala de aula. O porteiro do edifício de classe média que não pode conceber que um dos proprietários seja negro. A família que aposta sem duvidar nas virtudes do seu membro de pele mais clara”.
Essas práticas “inocentes” são sementes que são plantadas e crescem diariamente, são sementes que são levadas para o mundo escolar e acadêmico. Sementes que são levadas para o mercado de trabalho, para os campos de futebol.
As páginas dos jornais – que têm maioria branca em seus conselhos editoriais e altos cargos – mostram como o grupo dos considerados normais e superiores e o grupo dos considerados inferiores assimilam toda essa construção.
No entanto, os tempos mudaram: o movimento negro atual e do passado cobra mudanças, parte consciente do hip-hop também.
Negros de diferentes afiliações ou sem nenhuma afiliação não ficarão calados. Coitadismo? Não! Vamos celebrar o “revoltadismo”. A causa é justa. Quem não for racista…não tem nada a temer.
* Editor do Portal Central Hip-Hop/BF Oficial e colunista do Brasil de Fato SP

Armando Boito: Marina representa o casamento do Itaú com a WWF

Boito: Marina é síntese de rentismo e ambientalismo contra o crescimento
por Igor Felippe, no Escrevinhador
Armando Boito Jr, professor titular de Ciência Política da Unicamp, tem se dedicado a entender o movimento das frações de classes sociais nos governos de Lula e Dilma Rousseff.
Para isso, Boito acompanha o posicionamento dos diversos segmentos da classe trabalhadora e da burguesia para compreender as políticas econômicas e sociais do governo federal.
O estudo de quem ganha e quem perde com as políticas do governo é fundamental para entender os setores que sustentam, disputam e combatem a chamada frente neodesenvolvimentista, de acordo com Boito.
No livro Política e classes sociais no Brasil dos anos 2000, organizado por Boito e Andréia Galvão, um artigo do professor da Unicamp analisa a disputa entre o neoliberalismo, representado pelo PSDB, e neodesenvolvimentismo, forjado sob os governos Lula e Dilma.
O fortalecimento da candidatura de Marina Silva, pelo PSB, é uma novidade, já que quebra a polarização entre os partidos que disputam o governo federal desde 1994 e representam os projetos que organizam as forças sociais e econômicas.
“O discurso de Marina é contra a polarização PT/PSDB. Mas, de fato, o que está ocorrendo é que ela está ocupando paulatinamente o lugar do PSDB e mantendo, portanto, a polarização”, afirma Boito.
Segundo ele, há uma convergência objetiva de interesses entre ambientalismo de tipo capitalista e a política econômica do rentismo neoliberal, contra o crescimento econômico que sustenta o neodesenvolvimentismo.
“Os ambientalistas porque imaginam que, assim, preservarão a natureza; os rentistas porque querem conter os gastos do Estado para aumentar o superávit primário e rolarem sem sobressaltos a dívida pública”, analisa.
Abaixo, leia trechos da entrevista de Armando Boito ao blog Escrevinhador.
Eleições e o extraordinário
O PSDB é um partido eleitoralmente declinante. O seu programa não fala, e não pode falar, às grandes massas. Como as pesquisas indicam, a disputa, salvo acontecimento extraordinário, está entre Dilma e Marina. Não podemos nos esquecer, contudo, que as manifestações de Junho de 2013 foram um acontecimento extraordinário e a queda do avião – de propriedade até hoje suspeita e desconhecida – que transportava Eduardo Campos em agosto, também. E foram acontecimentos que mudaram o processo eleitoral.
A queda do avião foi providencial para a direita. Impossibilitada de chegar ao poder com Aécio, a direita desembarcou na candidatura Marina. Ela está juntando tudo: o Clube Militar, banqueiros, ecologistas, pastores fundamentalistas, setores modernos da juventude de classe média, oposicionismo ao PT…
Tem um partido pequeno e fraco, por isso maleável, uma imagem flutuante, comportamento eleitoral oportunista e origem na centro-esquerda. É o que a direita precisava para reverter o declínio eleitoral.
Dilma, frente da burguesia interna e setores populares
A candidatura Dilma representa a grande burguesia interna e tem apoio na maior parte dos setores populares organizados – sindicatos, movimentos de moradia, movimentos pela terra – e desorganizados – a base dispersa de trabalhadores marginais beneficiária dos programas de transferência de rendas. Daí, a sua política neodesenvolvimentista acoplada a uma política social moderadamente distributivista.
Grande capital e Aécio
A candidatura Aécio representa o grande capital internacional, os setores da burguesia brasileira atrelados a esse capital e a alta classe média. Daí o seu programa neoliberal ortodoxo e a sua rejeição aos investimentos produtivos do Estado e às políticas sociais distributivistas.
Perspectivas para a cidadania
O neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo entretém relações distintas com os movimentos de reconhecimento da cidadania de negros, mulheres e homossexuais. O campo neodesenvolvimentista é aberto à luta pelo reconhecimento de negros, de mulheres e do movimento LGBT, enquannto o campo neoliberal ortodoxo é mais fechado a essas lutas, principalmente à luta da população negra que ameaça os privilégios da alta classe média nas grandes universidades e no serviço público.
Efeito colateral do sistema político
Os campos neodesenvolvimentista e neoliberal e seus respectivos partidos guardam uma relação orgânica, isto é, mais sólidas – o que não significa que tudo esteja separado de maneira estanque como poderia sugerir a rápida síntese que fiz acima. São relações sedimentadas ao longo de anos. Com Marina Silva, a situação é mais complicada. A sua candidatura é resultado da complexidade da disputa política-eleitoral.
Marina, casamento do capital com o ambientalismo
Marina Silva não tinha, inicialmente, nenhuma relação orgânica com a classe dominante.
Ela representava o ecologismo de tipo capitalista de setores da classe média. Foi no jogo eleitoral que que a sua candidatura veio a se vincular com o grande capital internacional. Esse vínculo, contudo, não é aleatório. Há uma convergência objetiva de interesses entre ambientalismo de tipo capitalista e a política econômica do rentismo neoliberal.
Esse ambientalismo quer brecar o crescimento econômico e, por isso, a política do rentismo lhes é mais favorável. Ambos, ambientalismo e rentismo, elegeram o neodesenvolvimentismo como inimigo principal. Não querem saber de investimentos públicos em estradas, portos, hidrelétricas.
Os ambientalistas porque imaginam que, assim, preservarão a natureza; os rentistas porque querem conter os gastos do Estado para aumentar o superávit primário e rolarem sem sobressaltos a dívida pública. Essa é uma convergência objetiva de interesses, é algo mais profundo que o fato de a Marina Silva ser amiga política e pessoal da Neca Setúbal. O discurso de Marina é contra a polarização PT/PSDB. Mas, de fato, o que está ocorrendo é que ela está ocupando paulatinamente o lugar do PSDB e mantendo, portanto, a polarização.
Contradições de um eventual governo Marina
Uma coisa é a candidatura e outra é o governo. Para pedir votos, o candidato pode ser, pelo menos dentro de certos limites, uma “metamorfose ambulante”; para governar, não. Um governo Marina Silva teria de assumir posições mais firmes e tenderia, por isso, a entrar em conflito com uma parte ou outra dos que atualmente apoiam a sua candidatura. Seu apoio mais sólido é o grande capital internacional e o capital financeiro. Mas, provavelmente, seria um governo instável.
Obstáculos de um novo governo Dilma
A frente política neodesenvolvimentista está sim em crise. Mas estou falando de uma crise política e não de uma crise econômica, embora seja verdade que a queda do crescimento é um dos fatores que explicam a crise política da frente neodesenvolvimentista. A frente neodesenvolvimentista é muito heterogênea e sempre foi atravessada de contradições.
Na conjuntura atual, essas contradições internas se exacerbaram e, ademais, o campo neoliberal ortodoxo iniciou uma ofensiva restauradora. A queda do crescimento, a proximidade das eleições, o crescimento das demandas populares, as divisões no seio da grande burguesia interna e a pressão do imperialismo, tudo isso contribuiu para desestabilizar a frente neodesenvolvimentista e encorajar a ofensiva restauradora do grande capital internacional e de seus aliados internos.
Afastamento da burguesia do governo
O fato de o neodesenvolvimentismo ter surfado na onda do boom das commodities, abandonando a proposta inicial mais ambiciosa – e também mais complexa – de reindustrialização do país, afastou a burguesia industrial do governo e reduziu a capacidade de a economia gerar empregos de alta qualificação, decepcionando a juventude de classe média que cursou universidades – esse descontentamento apareceu em primeiro plano nas manifestações de junho de 2013.
Ofensiva do grande capital
As contradições ativas na crise política se desenvolveram de modo desigual. Enquanto as demandas do movimento popular expressam-se, ainda, em lutas reivindicativas, isto é, sem um programa político democrático-popular que os unifique, a ofensiva restauradora do grande capital internacional e de seus aliados internos é uma ofensiva política.
Eles têm programa, partido e, com Marina, uma candidatura viável. São eles, e não o movimento popular, que têm condição de substituir o neodesenvolvimentismo. E o que colocarão no seu lugar será um programa contrário aos interesses da população trabalhadora e aos interesses nacionais.
Limites do movimento popular
Atualmente, o movimento popular, como disse acima, está, enquanto movimento de massas, no nível da luta reivindicatória. Emprego, salário, moradia, terra: temos aí uma gama de reivindicações, cristalizadas em movimentos específicos e mais ou menos estanques. Esses movimentos não têm um projeto de poder. Falta aos movimentos populares consciência revolucionária e organização política. O que podem fazer agora é combater o inimigo principal: o grande capital internacional e seus aliados internos representados no PSDB e, cada vez mais, na candidatura Marina Silva. Se perderem essa batalha, até a luta reivindicatória poderá sofrer enorme retrocesso.
Campanha por uma Constituinte do sistema político
Essa campanha foi organizada pela parte da sociedade cujos interesses estão alijados do sistema político. O presidencialismo brasileiro é autoritário, a mídia é monopolizada e funciona como partido político da direita, temos o financiamento empresarial de partidos e candidatos, não há mecanismos de consulta e de participação popular nas decisões governamentais, enfim, temos um sistema politico fechado.
O plebiscito pela Constituinte exclusiva e soberana do sistema político visa a mudar esse sistema com participação popular. Se acumular força e lograr impor a convocação de uma Constituinte desse tipo, daremos um grande passo na superação da democracia atrasada e elitista que é a democracia brasileira. Aliás, diga-se: a única candidatura que demonstrou algum interesse em tal Constituinte foi a candidatura Dilma Rousseff.
PS do Viomundo:  O título  deste artigo é uma tradução livre do jornalista Igor Felippe a partir das considerações do professor Armando Boito, da Unicamp. O Itaú representa o rentismo. E a  corporação ambiental WWF, o ambientalismo capitalista. Ambos são contra o Estado e o crescimento econômico.

“Quem é contra o pré-sal é contra o futuro do Brasil”, diz Lula

 Por Revista Forum (aqui)

Ex-presidente participou de ato em defesa do pré-sal no Rio de Janeiro. Políticos, ativistas sociais e estudantes se reuniram para um abraço simbólico na estatal
Por Redação
pré-sal dilma
Manifestantes destacam reeleição de Dilma Rousseff como uma forma de garantir avanços na área petrolífera
O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva participou, nesta segunda-feira (15), de um ato em defesa do pré-sal e da Petrobras. O evento foi coordenado pelo Sindicato dos Bancários, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), com apoio de centrais sindicais, entidades estudantis e movimento sociais.
A multidão de manifestantes se reuniu na Cinelândia, região central do Rio de Janeiro, e desceu pela Avenida Chile em direção à sede da Petrobras, onde foi realizado um abraço simbólico à estatal. Lula vestiu um uniforme de petroleiro, para demonstrar orgulho do pré-sal, que considera “a maior descoberta do petróleo na história contemporânea do planeta Terra”. A cidade de Recife também organizou uma manifestação no mesmo horário.
O ex-presidente exaltou os números positivos do setor, que, segundo ele, produziu nos últimos oito anos um volume de petróleo equivalente a três décadas da história da companhia. E, mesmo sem citar diretamente a candidata à Presidência Marina Silva (PSB), fez críticas àqueles que não valorizam esse patrimônio da economia brasileira. Em declarações recentes, Marina se referiu ao petróleo como um “mal necessário” e dedicou apenas uma linha de seu plano de governo ao assunto. “Quem é contra o pré-sal é contra o futuro do Brasil”, enfatizou Lula.
pré-sal recife
Atos no Rio de Janeiro e Recife marcam apoio ao pré-sal
O ato teve como um dos focos impulsionar a campanha da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), que foi apontada pelos participantes como a única capaz de levar à frente as conquistas realizadas até o momento na área petrolífera do País. Entre os políticos presentes, declararam apoio à presidenta o senador Lindbergh Farias (PT), candidato ao governo do estado, e as deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB) e Benedita da Silva (PT).
Ainda no Rio de Janeiro, a presença de Lula e Dilma está confirmada em um ato que reunirá, hoje, artistas e intelectuais no Teatro Casa Grande, às 19h. Personalidades como Chico Buarque, Beth Carvalho, Ângela Vieira, Marilena Chauí e Marieta Severo já tornaram público o apoio à candidata petista e assinaram uma carta em que expõem os motivos para votar em Dilma nas eleições deste ano.

Foto de capa: Muda Mais

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA - A soberania na corda bamba



O assunto dívida pública é censurado pela mídia mercantilista porque esta se alimenta do abjeto poder financeiro, constituído por abutres insaciáveis que devoram impiedosamente massas humanas em todo o mundo, gerando desemprego, fome e miséria. A abordagem desse assunto pelos órgãos de comunicação é parcial, distorcida e enganosa. 

A Comunicação, sem qualquer escrúpulo com o seu fundamental papel para capacitar a população na tomada de decisões em benefício de todos, denomina a auditoria como calote, aceita e reforça o conceito de dívida líquida, subtraindo do valor real, bruto da nossa dívida, as reservas internacionais, que são aplicações do Brasil no exterior, a juros perto de zero.

Enquanto isso, pagamos juros acima da taxa SELIC, os maiores do mundo. É como subtrair de uma dívida com juros altíssimos o dinheiro parado dentro de um colchão.

A dívida total brasileira no ano de 2013 chegou ao valor aproximado de R$ 4 trilhões; o pagamento de juros e amortizações alcançou R$ 718 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 2 bilhões por dia; esse desembolso anual representa 40% do orçamento da nação.

Este filme contribuirá muito para ajudar na conscientização do povo brasileiro, única forma de libertar o nosso país dessa submissão ilegal, injusta e odiosa.

Direção, roteiro, câmera e entrevistas: Carlos Pronzato
Direção de Produção: Cristiane Paolinelli
Edição: Henrique Marques
Assistência de Direção/Pesquisa de imagens: Luiza Diniz
Ideia e argumento: Gisele Rodrigues
Assistência de produção/RJ: José Bernardes e Helena Reis
Assistência de produção/DF: Rodrigo Ávila
Assessoria de comunicação: Richardson Pontone
Produção: Instituto Rede Democrática/RJ, Núcleo RJ da Auditoria Cidadã da Dívida Publica e Sindipetro/RJ
Realização: La Mestiza Audiovisual

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

André Singer: “Com vitória de Marina Silva, governo será do PSDB”

Por Bruno Pavan, do Brasil de Fato
“Caso algo mude até a publicação, a gente pode marcar uma outra conver­sa”, disse o cientista político e professor da USP André Singer no começo da noite do dia 25 de agosto. 12 dias após a mor­te de Eduardo Campos, então candidato do PSB, a pesquisa mais recente que tí­nhamos em mãos mostrava Marina Silva com 21% dos votos no primeiro turno e o tucano Aécio Neves com 20%.
Dez dias depois, na segunda parte des­ta entrevista – esta entrevista foi feita em duas etapas –, Marina Silva já estava 19 pontos percentuais na frente do tucano no primeiro turno. Além disso, estava 7 pontos na frente da atual presidenta Dil­ma Rousseff no segundo. Mesmo assim, o professor é cuidadoso e não decreta pa­receres categóricos sobre o instável cená­rio eleitoral brasileiro.
A prudência de Singer tem várias ra­zões de ser. Na eleição que se projeta a mais embolada dos últimos tempos, de­sejo de mudança e antigos temores se misturam na cabeça dos eleitores brasi­leiros e em um mar de números e por­centagens, o professor tenta transformar o horizonte em algo mais palpável.
Para ele, os números mostram o que analistas políticos já esperavam: a jun­ção de promessa de uma nova política, desejo de mudança e pouco crescimen­to econômico transformaria essa eleição na mais equilibrada dos últimos tempos. “Insatisfação de social, queda constante da aprovação do governo desde junho do ano passado são sempre indicativos de eleição difícil”, analisa.
Nessa entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Singer responsabiliza a “difi­culdade em ganhar a confiança da ca­mada mais baixa da população” como o principal desafio do PSDB nessas elei­ções. Além disso, aponta que o duelo de Marina e Dilma será pela maior faixa de eleitores com renda de dois a cinco sa­lários mínimos mensais. “Você não tem chance nenhuma de ganhar a eleições no Brasil sem ter uma penetração importan­te nessa faixa de renda”.
Brasil de Fato – Na nossa última conversa (primeira parte desta entrevista), você disse que não acreditava na possibilidade de Marina Silva ganhar a eleição. Hoje, dez dias depois, Marina está empatada com Dilma no primeiro turno e quase 20 pontos percentuais à frente de Aécio Neves. É possível dizer que Marina tem chances de ser a próxima presidenta do Brasil e que Aécio está fora do segundo turno?
André Singer – As pesquisas divulga­das nos últimos dias mostram que sim, Marina Silva pode vir a ganhar a eleição e ser presidente. Isso confirma um prog­nóstico de que esta eleição seria difícil. Não era algo impossível de prever tendo em vista o fato de que a economia brasi­leira teve uma redução importante do ní­vel de crescimento, e diante disso, exis­te um gradativo aumento da insatisfação social e uma queda constante da aprova­ção do governo desde junho do ano pas­sado. O que houve até aqui foi um fenô­meno previsível, a Marina já tinha 27% das intenções de voto em abril deste ano. Agora é que de certa forma começa o jo­go. Uma vez que ela tenha se colocado na posição de que vá disputar com a pre­sidente Dilma, começam a aparecer as perguntas pra ela: o que ela pensa em fa­zer? Qual é o seu projeto de país? O que ela representa? Já começaram a apare­cer questionamentos sobre a consistên­cia das propostas dela, tanto das outras campanhas como da própria impren­sa. Eu acho que o eleitorado vai pensar nessas semanas que nos separam do pri­meiro e segundo turnos. Quanto ao Aé­cio Neves eu diria que hoje, com os da­dos que temos, é difícil imaginar que ele consiga reverter essa situação, mas não é impossível.
A Marina tem um histórico de lutas na esquerda, mas chamou pra ser vice um quadro mais pragmático, caso do Beto Albuquerque, ligado ao agronegócio. Essa nomeação é uma espécie de “carta aos brasileiros” de Marina?
Não chega a tanto, mas vai nessa di­reção. Ela faz uma série de movimentos para se colocar nitidamente ao centro do debate, e isso é uma tática eleitoral mui­to inteligente. Essa maior proximidade da Marina com a esquerda tem a ver com dois elementos: o histórico, pois ela foi uma importante militante e depois diri­gente do PT durante muito tempo; e es­se vínculo por meio da questão ecológica com os movimentos pela reforma agrá­ria. Esses dois elementos, porém, são mais históricos do que presentes. O tipo de movimento que a Marina está fazendo hoje, de assinar esse tipo de compromis­so com setores da direita, apenas reflete ou expressa de maneira mais clara a op­ção que ela já fez há um bom tempo, es­ses movimentos não são novos. Hoje eles têm maior visibilidade e impacto porque ela passa a ser uma peça muito impor­tante no jogo eleitoral.
Marina se coloca como representante da nova política. Em notícia que saiu na semana passada, com possíveis nomes de seu ministério, existem nomes como Luiza Erundina, Eduardo Suplicy e José Serra. Qual a chance dessa formação ministerial dar certo?
Ela vai ter uma base partidária para um eventual governo muito frágil e vai ter que fazer enormes composições, que será bem difícil por conta que ela tem centra­do a plataforma dela na fundação de uma nova política. Esse é um dos grandes pro­blemas dessa abordagem. Na prática, as dificuldades pra ela serão enormes por­que a governabilidade, em alguma medi­da, passa por uma maioria congressual. Sem isso, ela vai ter que negociar com os partidos que lá existem. Como ela se co­locou no centro ideológico da disputa, a questão então será de saber pra que la­do ela fará essa composição. Ela teria que ser muito pouco realista para entrar por um caminho de desconhecer as forças políticas representadas no Congresso na­cional. Porém, eu não acredito num pri­meiro momento que o PT se disponha a participar de um governo Marina. O PT é uma grande máquina partidária e vai fazer uma política de oposição para vol­tar em 2018, caso perca as eleições. Por essa razão, eu acho que ela terá que se apoiar muito no PSDB. Ela pode tentar essa composição com forças heterogêne­as que estejam em diversos partidos, mas me parece um caminho muito arriscado e pouco promissor. Se ela vencer, terá que partir pra uma composição partidá­ria mais sólida do que essa de pegar no­mes aqui e ali de maneira fragmentada.
Muito se reclama da bipolarização da disputa presidencial no Brasil. Marina aparece em 2010 e consegue quase 20 milhões de votos investindo no desejo da novidade para o eleitor brasileiro. Em 2014 ela conseguiu capturar os votos de Aécio Neves com muita rapidez. A polarização do Brasil era PT x PSDB ou petismo x o antipetismo?
Você tem esses dois fenômenos: o pri­meiro é o da polarização PT x PSDB, so­bretudo porque são as duas grandes ins­tituições partidárias brasileiras. Apesar de o sistema partidário ter dezenas de partidos registrados e representados na Câmara dos Deputados e de ser um siste­ma altamente fragmentado, ele tem três partidos relevantes: o PT, PSDB e PM­DB. Esses são visivelmente os partidos que constantemente têm maior possibi­lidade de ocupação dos cargos executivos importantes e de representação parla­mentar. Nesse contexto, o PMDB apare­ce como um partido que tem uma singu­laridade que é não apresentar candidatos a presidente e de ser o fiador da governa­bilidade no Brasil. Surpreendentemente, ele consegue se manter como um partido relevante. Isso significa que do ponto de vista partidário a polarização PT x PSDB vai continuar existindo mesmo que Aécio Neves não vá para o segundo turno. Eles continuarão sendo as duas grandes má­quinas partidárias que disputam o poder central. Por outro lado, existe essa pola­rização também de pestismo x antipetis­mo e isso é bem forte. Eu diria que o an­tipetismo é um fenômeno social e políti­co importante e que nesse momento está sendo canalizado para a candidatura Ma­rina Silva, que está sendo o escoadouro dessa tendência e aparece como a pessoa que vai disputar palmo a palmo a presi­dência da república com o PT. Se ela vir a ganhar a eleição, é possível que faça um governo que, na prática, seja um gover­no do PSDB com ela à frente. Não tendo uma estrutura partidária e de aliança de classes, ela precisará desse suporte. Não sei como o PSDB reagiria a essa eventu­alidade, mas eu diria que pra ela é quase que uma alternativa única.
A campanha de Aécio Neves, quando Eduardo Campos era o candidato do PSB, não tinha sequer fôlego para levar a eleição ao segundo turno. Hoje, ele está 19 pontos atrás de Marina Silva e praticamente fora do segundo turno. O que o PSDB precisa fazer para “roubar” votos de Marina e se garantir no segundo turno da eleição?
O desafio do PSDB nesta eleição é o de adquirir um perfil mais popular. Não é muito diferente do que ele vem tendo em 2002 e, sobretudo, 2006. Hoje, o gover­no não é tão bem avaliado quanto era há algum tempo, a gente sabe também que há certo desejo de mudança, e isso é uma situação melhor pra oposição. O proble­ma para o PSDB está em que ele tem mui­ta dificuldade de convencer a população de baixa renda de que ele tem uma alter­nativa que pode favorecê-la. O desafio principal me parece ser tirar da Marina os votos dos setores mais populares por­que dificilmente ele vai conseguir com­petir com ela na faixa dos jovens de clas­se média urbanos. Existe um sentimen­to nessa parcela de que é preciso uma nova política mais moderna, que eu te­nho utilizado a categoria de pós-materia­lismo para caracterizar. Esse é um con­ceito formulado por um cientista políti­co norte-americano chamado Ronald In­glehart em que ele explica que uma mu­dança ocorre na agenda política dos paí­ses que estão no centro do capitalismo mundial a partir da década de 1970. De fato, eu acho que ele capturou certa mu­dança ideológica que está em curso des­de então, e acho que em certa medida ela se aplica a setores do eleitorado brasilei­ro, que são bem representados pela can­didatura da Marina.
A ascensão do PT em 2002 se deu muito por aquilo que você muito bem definiu como Lulismo: um governo sem rupturas, e de mudanças graduais. Agora, Dilma se depara com uma estagnação econômica e com os eleitores querendo mudança. Esse ciclo acabou?
A situação que a gente está vivendo é ligada à mudança da conjuntura eco­nômica internacional e essa dificuldade trazida pela baixa do crescimento que está se expressando nessa vontade de mudar. A partir de 2011, nós passamos a viver uma tendência de baixa geral da atividade econômica no mundo e isso impactou o Brasil de uma maneira que não tinha acontecido no auge da crise em 2008/09. Cabe lembrar que o Bra­sil é um país onde pra uma enorme fatia da população está tudo por fazer. Hou­ve melhorias importantes, só que como eu procurei mostrar, elas foram pauta­das por um gradualismo extremo, elas são melhoras incrementais e trouxeram as pessoas pra uma condição de vida su­perior a que elas tinham, mas que ain­da está longe de uma situação que vo­cê possa dizer que o fundamental es­tá resolvido e a partir de agora a gente vai pro complementar. Eu não concor­do com a ideia de que o ciclo se esgotou, mas que ele se confrontou com uma si­tuação bem mais difícil do que vinha en­frentado no período anterior, que a eco­nomia mundial estava crescendo e va­lorizando rapidamente as commodities brasileiras. Estamos passando por um período de impasse em que diante des­sa nova situação a pergunta é: o que fa­zer? A presidente Dilma tentou na pri­meira metade do seu governo uma via mais à esquerda e procurou romper o impasse baixando juros, desvalorizan­do o real, fazendo certo controle dos ca­pitais externos, criando marcos regula­tórios que estimulavam atividade eco­nômica para um modelo de desenvolvi­mento com distribuição de renda, cito, por exemplo, a questão da energia elé­trica. Mas esse ensaio, que eu chamo de desenvolvimentista, não deu certo. Ele se interrompeu porque, pelo que dizem os economistas, faltou investimento pri­vado. A partir daí a gente começa a vi­ver uma espécie de patinação, os juros voltam a subir e a economia começou a enfraquecer ainda mais, resultando na situação que nós estamos hoje. Eu vejo muito mais perguntas do que respostas no horizonte sobre essa questão.
Críticos e membros do PT culpam o distanciamento que o partido teve dos movimentos sociais nos últimos anos por uma possível derrota da presidenta Dilma. Esse distanciamento pode ser responsável por essas dificuldades?
Não diretamente. Esse distanciamen­to é algo que diz respeito ao que eu cha­mo de passagem para o Lulismo, que é um modelo de formação que não pas­sa pela mobilização social, é um mode­lo de transformação lenta e dentro da ordem, isso foi uma mudança que ocor­reu na política brasileira e depois den­tro do próprio PT. O que está aconte­cendo na eleição é que o eleitorado rea­ge à piora da situação econômica. A di­minuição do crescimento em um país co­mo o nosso, em que boa parte da popula­ção ainda tem muito para melhorar pa­ra chegar num estágio de satisfação das suas necessidades básicas, faz com que a insatisfação aumente de maneira rápida. Estamos entrando no quarto ano de bai­xo crescimento, portanto existe um acú­mulo na insatisfação, que se expressa­ram nas manifestações de junho e que de lá pra cá têm se mantido mais ou menos constantes. De tal forma que eu diria: são dois fenômenos reais, o distanciamento dos movimentos sociais e a dificuldade eleitoral em 2014, mas acho que eles não estão diretamente relacionados.
Observando a pesquisa completa do Ibope, se observa um número grande de entrevistados que consideram o gover­no regular (37%). Desses, 24% declara­ram voto na Dilma e 47% em Marina. Pra ganhar a eleição, o PT terá que ganhar votos de Marina necessariamente. Você acha que é essa parcela de eleitores que terá que ser convencida?
Essa é uma leitura possível: pegar quem avalia o governo de uma forma in­termediária, que é um eleitor mais dis­ponível de ser convencido a dar uma se­gunda chance ao governo Dilma. Mas vo­cê tem outras leituras possíveis, e a que eu prefiro é outra. A candidatura Marina já produziu uma novidade interessante que é uma divisão no campo popular, ela conseguiu puxar uma parcela importante que são os eleitores com ganhos mensais de 2 a 5 salários mínimos. De modo ge­ral, você pode dividir as faixas de renda do Brasil em quem ganha até 5 salários mínimos e os que ganham acima disso, são duas partes bem diferentes do eleito­rado. Não há chance nenhuma de ganhar eleição no Brasil se você não tem uma pe­netração importante nos eleitores dessa faixa que ganha até 5 salários mínimos, que são eleitores de renda baixa, mas que já superaram uma condição básica de pobreza. Eu acho uma maneira inte­ressante de pensar o processo da toma­da de decisão é que o fiel da balança es­teja localizado entre esses eleitores. Eles podem ser recuperáveis uma vez que ti­veram uma ascensão de classe patrocina­da, direta ou indiretamente, por progra­mas do governo. Essa é um elemento que joga a favor da candidata do PT. Se isso será suficiente para reverter o que as pes­soas hoje indicam em relação ao segundo turno, não é possível dizer nesse momen­to, mas é uma possibilidade.
A ascensão do discurso conservador representa algum perigo para o Brasil? As questões morais têm ganhado mais espaço no debate político?
Existe uma situação complexa, porque as questões morais estão gradativamente ganhando maior peso na disputa eleito­ral, mas eu não acho que seja numa mu­dança completa em que de uma hora pa­ra a outra elas vão passar ao centro do debate ou da decisão eleitoral. Elas vão de alguma maneira se combinar com os problemas centrais que na verdade con­tinuam sendo da esfera econômica. A Marina Silva é evangélica, por isso ela exerce uma atração sob os evangélicos. Os membros dessas igrejas pentecostais e neopentecostais dão bastante impor­tância a essa questão moral, portanto is­so pode fortalecer a candidatura dela e ao mesmo tempo explica o motivo dela to­mar a atitude de recuar na questão do ca­samento entre homossexuais. As confis­sões evangélicas estão bastante voltadas para a participação política e essa parti­cipação se dá em torno de eixos morais com posturas conservadoras. Na medi­da em que essas confissões crescem, sem dúvida há um ambiente mais conserva­dor. Todo esse cenário tem influência so­bre o conjunto da política brasileira por­que essa posição está nitidamente cres­cendo e puxando a política pra uma con­figuração que antes ela não tinha, por exemplo, essas questões morais e a in­fluência dela nas eleições majoritárias, mesmo sendo tímidas, começam a apa­recer e impactar todos os atores, sobre­tudo os partidos majoritários. O PSDB visivelmente será impactado, mas tam­bém o PT será, como outros. Talvez eu não falasse em ascensão do conservado­rismo, mas que há vários sinais de cres­cimento. Nas questões morais, que se li­gam ao crescimento das confissões evan­gélicas; no plano da cultura também vo­cê observa uma proliferação de autores que já assumem uma posição mais clara abertamente de direita. Além disso, na­queles setores em que houve uma ascen­são social, começa a ficar mais forte a de­fesa de posições meritocráticas, que deve ter mais sucesso aquele que faz mais es­forço, e isso vem acompanhado de uma posição que é contraria a universalização de direitos, sobretudo direitos que sejam garantidos pelo estado e por investimen­tos públicos.
As manifestações de junho de 2013 tiveram uma temática muito variada. O primeiro ponto era a mobilidade urbana, passou pela condenação da violência policial e chegou à reforma política. Inclusive o assunto chamou atenção da presidenta Dilma que foi para rede nacional na TV defender um Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político, que hoje foi encampada pelos movimentos sociais. É essencial hoje uma reforma política no Brasil? E com que fins?
O movimento pela reforma política é uma das novidades mais interessantes e promissoras desse último período. Acre­dito que ele aponta na direção de uma transformação necessária e muito posi­tiva e que fundamentalmente passa pela questão de democratizar a democracia. A democracia é um regime político insu­perável do ponto de vista dos interesses populares, mas ela está sempre em mo­vimento, não é uma obra acabada e en­cerrada e tanto pode sofrer pressões tan­to no sentido de ser colonizado pelo di­nheiro quanto no sentido de ser reapro­priado pela própria população. No ca­so brasileiro, a reforma me parece fun­damental porque embora tenhamos as­pectos democráticos muito interessan­tes, como o referendo, as conferências nacionais e essa proposta de formaliza­ção dos mecanismos de participação por meio dos conselhos, as campanhas elei­torais são das mais caras do mundo e o sistema de financiamento delas se trans­formou em um sistema empresarial. Evidentemente, quando as campanhas ficam tão caras e são praticamente to­das financiadas por empresas, você es­tá numa condição em que o capital tem muita influência sobre o processo eleito­ral, e o cidadão comum e os movimentos populares muito pouca. Penso que da­ríamos um grande passo se conseguís­semos modificar a forma de fazer cam­panha. Elas têm que ser mais baratas e com teto de custos baixo e que, portan­to, qualquer campanha mais cara fosse facilmente fiscalizável. Se estabelecesse obrigatoriedade de programas de televi­são no horário gratuito em que os can­didatos se apresentassem expondo seus programas, sem toda essa parafernália cinematográfica caríssima que acrescen­ta pouco à pedagogia democrática. O ar­gumento contrário é o de que vão conti­nuar existindo doações por baixo do pa­no e que se você promulgar uma legisla­ção desse tipo você vai perder o contro­le sobre as doações em lugar de adqui­rir maior controle. Eu reconheço que es­se não é um argumento trivial, pois toda a mudança de regra tem uma maneira de se burlar. Mas a sociedade tem que ten­tar se mexer na direção de encontrar um modelo que faça esse movimento de de­mocratizar a democracia. No contrário, vai acontecer o que muitos observam em diversos países do mundo, sobretudo nos mais desenvolvidos, em que há um esvaziamento da democracia, uma per­cepção por parte dos eleitores que a po­lítica não tem nada a ver com ele, é uma estância que funciona descolada das as­pirações da própria sociedade. Eu reco­nheço que mudar regras não é simples, e que a gente precisa ter uma postura cautelosa, mas ao mesmo tempo é pre­ciso convir que a sociedade tem que se mexer, ela tem que tentar essas mudan­ças na direção daquilo que lhe interessa. Ela estando mobilizada em torno desse movimento é a maior garantia de que as novas regras poderão funcionar. É claro que haverá tentativas de fazer financia­mento por baixo do pano se você mudar a regra que proíba, por exemplo, a do­ação de pessoa jurídica. Como você vai evitar isso? A mobilização da sociedade como fiscalizadora.