Por Dj Cortecertu*, especial para o Blog Escrevinhador
Parafraseando a boçalidade, vou direto ao assunto. Sempre afirmaram
que ações afirmativas, cotas e o ensino da história da África nas
escolas eram “imposições” que dividiriam o povo brasileiro.
Essas medidas gerariam o “ódio racial”, pois criariam revisões
históricas e um certo revanchismo. Ali Kamel e Demétrio Magnoli, entre
outros ilustres, midiáticos e letrados arautos da harmonia social, são
os maiores defensores dessas ideias.
Nesta semana, no portal G1 (clique aqui para ler),
a antropóloga Yvonne Maggie afirma que “o Brasil reprime o racismo.
Para o brasileiro é mais ofensivo o crime de racismo do que a morte”. A
experiência cotidiana das pessoas simples deste país prova exatamente o
contrário.
Será que esses seres iluminados não percebem que a indiferença e a
impunidade que envolvem o tratamento dos casos de racismo no Brasil
podem gerar esse ódio que tanto temem?
Pelo que vejo na grande mídia e nas redes sociais, o protesto dos
negros não está agradando. O recado é: voltemos a falar que somos todos
iguais para anular as diferenças que provam que essa igualdade não
existe.
Os casos que rolam no futebol são o exemplo do tipo de racismo que é
mais frequente no Brasil: o racismo prático, inocente, que não se
pretende racista.
Pode isso? Sim, pode.
Essa prática está na tal experiência cotidiana citada acima, o
preconceito fabricado por “pessoas de bem”. Pessoas que cometem injúrias
raciais, mas afirmam que não são racistas. Afinal, é algo tão normal,
que o futebol só amplifica em suas arenas.
Em 2006, em um texto da Revista USP (leia aqui),
Rita Laura Segato, professora do Departamento de Antropologia da
Universidade de Brasília, abordou a reprodução deste racismo prático e
estrutural, algo que resiste à identificação de uma autoria ou
responsabilidade.
“Este tipo de racismo é automático, irrefletido, naturalizado,
culturalmente estabelecido e que não chega a ser reconhecido ou
explicitado como atribuição de valor ou ideologia”, afirma Rita.
É difícil combater algo invisível assim, né? Invisível pra quem?
A professora prossegue na argumentação. “O professor da escola que
simplesmente não acredita que o aluno negro possa ser inteligente, que
não o ouve quando fala nem o percebe na sala de aula. O porteiro do
edifício de classe média que não pode conceber que um dos proprietários
seja negro. A família que aposta sem duvidar nas virtudes do seu membro
de pele mais clara”.
Essas práticas “inocentes” são sementes que são plantadas e crescem
diariamente, são sementes que são levadas para o mundo escolar e
acadêmico. Sementes que são levadas para o mercado de trabalho, para os
campos de futebol.
As páginas dos jornais – que têm maioria branca em seus conselhos
editoriais e altos cargos – mostram como o grupo dos considerados
normais e superiores e o grupo dos considerados inferiores assimilam
toda essa construção.
No entanto, os tempos mudaram: o movimento negro atual e do passado cobra mudanças, parte consciente do hip-hop também.
Negros de diferentes afiliações ou sem nenhuma afiliação não ficarão
calados. Coitadismo? Não! Vamos celebrar o “revoltadismo”. A causa é
justa. Quem não for racista…não tem nada a temer.
* Editor do Portal Central Hip-Hop/BF Oficial e colunista do Brasil de Fato SP
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